Primeiro Eu e depois?
- karinadafonsecapar
- 9 de out. de 2023
- 9 min de leitura

Primeiro, a pessoa ou a deficiência? O que vem primeiro? Você ou o outro? Essas são coisas
que eu me peguei refletindo durante esse tempo que eu fiquei longe desse podcast. Se você não me conhece, meu nome é Karina, eu sou psicóloga, técnica em neurofeedback e especialista em reabilitação
quer dizer que a minha especialidade ajuda pessoas com deficiência a ganharem mais autonomia, a trabalharem o seu amor próprio e a fazerem com que a sua vida seja mais leve e mais feliz, esse é o ponto
final sobre o questionamento que eu acabei de começar. O que vem antes é a pessoa e não a deficiência. E é por isso que o nome de deficiente foi mudado pra pessoa com deficiência. No intuito de colocar a pessoa primeiro
e o tema de hoje é superimportante porque hoje, dia seis de outubro, é um dia muito especial. É o dia da paralisia cerebral, dia mundial que celebra e
demonstra a importância da gente falar sobre e conscientizar as pessoas sobre a paralisia cerebral que é porque nada é por acaso a deficiência que eu tenho. Eu sou uma mulher com deficiência
mas eu precisei aprender que eu vinha antes da deficiência, porque muito tempo ao longo da minha história eu não me reconhecia como pessoa com deficiência. Eu passei a vida inteira escutando ah
só tem um probleminha na perna e muitas vezes hoje quando eu me apresento como pessoa com deficiência em espaços em que pessoas com deficiência estão presentes eu já ouvi comentários como por exemplo ah mas você não tem nada
No início, eu achava aquilo tão difícil de lidar porque eu falava bom, eu não sou comum, que nem as outras pessoas que não tem deficiência e eu também não sou deficiente o suficiente pra ser considerado uma pessoa com deficiência que precisa lutar pelos próprios direitos e
e isso foi algo que me causou muito sofrimento. Durante muito tempo. Mas quando eu fui me conhecendo e mais especificamente depois de passar por um relacionamento abusivo em que a pessoa usou a minha deficiência como justificativa pro término
eu mergulhei no meu autoconhecimento. Eu tive que começar a aprender o que era ser pessoa primeiro. Quem era eu? Da onde que eu vi? Qual era a minha história pra depois começar a estudar sobre a deficiência
Engraçado, né? Aos dezoito anos eu tinha feito o meu trabalho de conclusão de curso da escola Rodolfo Steiner, que foi a escola que eu me formei no ensino médio
eu falei sobre paralisia cerebral, mas naquele momento eu ainda não me enxergava como uma pessoa com deficiência. Eu sabia que que eu tinha, eu conseguia falar com todos os médicos sobre os meus sintomas, eu conseguia falar com qualquer pessoa
o que que era pra cerebral. Mas eu era tão desconectada de mim, da minha própria história que eu não me via como parte dela. E aí eu trago o questionamento pra vocês que vai ser o que vai nortear essa temporada do podcast
primeiro eu. E eu falei pra vocês, primeiro você ou o outro? Muitas vezes as pessoas com deficiência elas tem dificuldade de se reconhecer como pessoa com deficiência
e de se aceitar muito porque elas colocam o outro na frente da sua história. Elas estão muito preocupadas com o que o outro vai pensar, com o que o outro vai falar, com o julgamento do outro. Quantos pacientes eu já peguei no consultório que falavam assim pra mim, a minha
deficiência tão leve que eu tenho vergonha de entrar na fila preferencial do mercado, do banco. Ou então, sempre que eu vou exigir os meus direitos, os meus pais falam, ai que besteira, agora tudo é capacitismo. E
e aí a pessoa não se encontra no seu próprio lugar. Ela não se reconhece enquanto pessoa com deficiência e nem se reconhece como pessoa. Ou então, tem outro exemplo, a pessoa que coloca deficiência frente a tudo
e acaba tomando uma posição de vítima dentro da própria história. Então, por exemplo, ah, eu não consigo morar sozinha, porque eu tenho deficiência, sabe? Ou então, ai, eu faz pra mim? Eu não consigo. Eu sou deficiente
usa a deficiência como desculpa pra muitas vezes não assumir as próprias escolhas e ter autonomia. E ambos esses casos a terapia é um espaço surpreendente, sabe por quê? Porque a terapia vai te ajudar a se reconhecer dentro da sua própria história
e eu não posso falar pelos outros profissionais, mas eu posso falar por mim. O meu objetivo como psicóloga, com os meus pacientes, principalmente os que tem deficiência e que eu trabalho a questão da reabilitação, é o seguinte,
Quem é você antes da deficiência? E se a deficiência faz parte da sua história, como é que a gente vai lidar com ela? Para que você consiga ir de encontro a todos os seus objetivos para realizá-los
Então, eu vou te dar um exemplo da minha história. Aos dezoito anos, eu fui aceita numa faculdade nos Estados Unidos e eu queria muito ir. E aí, eu me preparei psicologicamente na terapia, me preparei com os meus
fiz todo um trabalho pra minha mudança, eu formei em dezembro, em São Paulo, no Brasil e só fui pra faculdade depois de fazer uma cirurgia muito grande, que eu precisava fazer. Seis meses depois, pra começar as aulas em agosto
E durante esse tempo, eu fiquei refletindo sobre muitas soluções que eu poderia encontrar pra poder me preparar pra morar sozinha pela primeira vez. Então, eu aprendi com a minha mãe a lavar roupa, eu aprendi a fazer uma comida simples,
e lógico eu fui morar numa faculdade, então fui morar num dormitório em que tinha comida vinte e quatro horas por dia disponível pra mim, o quarto tinha acessibilidade, então isso também facilitou a minha transição, mas não significa que foi fácil
Quando eu cheguei lá na primeira semana, a minha mãe chegou a me perguntar, filha, cê tem certeza que você quer ficar? Eu acho que cê não pode ficar aqui não. Ai, você acabou de fazer uma cirurgia, não tem como você morar sozinha
e aí eu tive o apoio do meu pai, dos meus irmãos e de alguns amigos pra dizer não Karina, você consegue, você tem uma característica que é resiliência, que faz com que você
tenha força pra lutar, frente os seus desafios. Só que eu vou te oferecer outra perspectiva. Será que lutar sempre não cansa? Lutar pra poder achar o seu espaço
como pessoa com deficiência ou antes de tudo como pessoa, isso não cansa? Ter que ficar toda hora reivindicando seus direitos, ter que ficar toda hora se perguntando qual é o meu lugar? E aí eu te faço o convite de sempre pensar
primeiro eu. Então, acho que o a grande lição dessa temporada talvez, e aí no final a gente vai refletir muito sobre isso, eh
Quem é você? E o que que você quer? Quais são as suas escolhas? Como é que você mesmo tendo uma deficiência ou não, se torna protagonista da sua história? Chega de dar ouvidos e espaço pro que o outro pensa ou acha sobre você
Se eu deixasse a minha mãe ter razão na minha história, eu não teria formado fora do Brasil, numa faculdade nos Estados Unidos. Eu não teria viajado pra Eslováquia, com uma turma só de pessoas do mestrado e eu ainda tava
no bacharelado. Por quê? Porque eu queria fazer parte do mundo. Naquele momento eu não me via como pessoa com deficiência
eu me via antes como pessoa que também tinha uma deficiência e eu fui procurando vários né? Que eu aprendi num congresso que eu fui e isso quais são esses né? Vem do inglês vários jeitinhos que eu
que eu fui dando pra fazer as coisas do meu jeito. Então, pra ir de um polo do campus da faculdade até outro, e olha que era uma faculdade pequena. Eu comprei um scooter, né? E aí eu ia sem problema nenhum, não chegava atrasada nas aulas
poderia ser facilmente uma cadeira de roda motorizada, mas o me servia. Eu também, com a ajuda do meu pai, pesquisando, encontrei um aparelho que eu uso até hoje pra me ajudar a levantar o pé e melhorar minha marcha e me cansa menos
e eu uso pra tudo esse aparelho. Quando eu tenho que ir pra um lugar que eu preciso andar muito, por exemplo, um shopping, uma consulta médica, qualquer lugar que eu preciso andar, eu uso esse aparelho e facilita muito a minha vida
mas eu só encontrei essas coisas porque eu comecei a me reconhecer como pessoa com deficiência, porque quando a gente se conhece, primeiro a gente não se ofende com o comentário que vem do outro
Então quantas vezes as pessoas me olhavam estranho quando eu tava com meu aparelho na perna ou quando eu tava com o meu me ofendia. Foi só depois que eu comecei a mergulhar no meu próprio autoconhecimento que eu entendi que isso queria dizer algo sobre a outra pessoa e não sobre mim
Quando eu decidi me tornar protagonista da minha própria história, eu deixei de deixar o outro ter poder sobre ela. E eu comecei a pensar, primeiro eu, depois o outro
Primeiro eu, depois a deficiência. Primeiro eu, depois o relacionamento. Porque se a gente não tá bem com nós mesmos, a gente não tá bem em lugar nenhum. E se a gente ancora a nossa autoestima no que o outro pensa, no que o outro
pro nosso trabalho, a gente também não fica bem com si mesma. Uma coisa que eu venho aprendendo durante esse tempo que eu fiquei longe aqui, eu continuei me dedicando aos atendimentos, continuei fazendo a minha terapia
é que, na verdade, a autoestima, ela não é pra ser flutuante, porque a gente tem que tá satisfeito e bem com a nossa pessoa, com quem a gente é. O nosso valor, ele é sempre o mesmo, sabe por quê
você que está me ouvindo tem valor simplesmente por existir, simplesmente porque você veio ao mundo, você já tem um valor inestimável. Então quando você começar a refletir
qual é o seu lugar no mundo? Se você mesmo assim como eu se sente inadequada ou sem lugar ou vivendo na fronteira é um termo que eu gosto de usar também
que é entre os dois mundos, né? Uma pessoa com deficiência, mas que tem limitações leves e não se reconhece enquanto pessoa com deficiência física, mental, dentro de um espaço em que só pessoas com deficiência estão, como o exemplo que eu falei mais cedo nesse episódio
pensa, o que que faz sentido pra mim? Como é que eu quero me definir? Qual é o peso que eu quero dar pra deficiência na minha história? Tudo isso vai te ajudar a se colocar em primeiro lugar e a escrever a sua própria história
Então, eu desejo que durante essa temporada do podcast você escreva novas histórias. Você continue escrevendo a sua história, que é uma só. Com vários capítulos diferentes e que
podcast te ajude a refletir e a melhorar a sua autoestima, o seu amor próprio e a realmente mergulhar no seu autoconhecimento. Como eu fiz, muitas vezes sozinha, mas eu posso te guiar nesse processo
E se você quer ficar ainda mais perto de mim e tem a necessidade de vir pra terapia, sente esse chamado de se autotrabalhar, de olhar pra você com mais amor, com mais carinho e realmente entender quem é você dentro da sua própria história
eu te convido a entrar lá no meu perfil no INSTAGRAM arroba Psi PSI Karina um K, Fonseca tudo junto e clicar lá no link da bio e aí você vai ser direcionada pra um botãozinho chamado agende a sua sessão,
aí você vai falar diretamente comigo, o meu WhatsApp comercial e eu vou te dar todas as orientações e te explicar como funciona uma sessão de terapia comigo, como é que é o processo terapêutico
e caso você não tenha interesse na terapia, mas gostaria de caminhar junto comigo, te convido a me seguir no INSTAGRAM e também no TikTok com o mesmo arroba. Esse episódio vai ficando por aqui, eu quero dar boas vindas às pessoas que estão chegando hoje, agora, nessa nova temporada
e também dizer que hoje é um dia especial, porque além do lançamento desse podcast é o dia mundial da paralisia cerebral, é um dia que a gente usa pra conscientizar as pessoas sobre o que que é a paralisa
e também pode ajudar na prevenção, né? Porque muitas pessoas com paralisia cerebral, como eu, não nascem com a paralisia, mas pode acontecer alguma lesão pós-parto ou durante o parto que fazem com que a paralisia cerebral aconteça
Então quanto mais informação tivermos sobre essa patologia, sobre essa deficiência, mais a gente vai conscientizando as pessoas, não só com os direitos de pessoas com deficiência
mas também como tratar adultos com paralise cerebral, que é algo um pouco falado também e isso me instigou muito a trabalhar com a reabilitação, porque era um questionamento meu, de novo, eu não sentia que eu tinha um lugar e aí eu criei esse lugar
junto com vocês aqui na comunidade reabilitação também lá do INSTAGRAM, no WhatsApp, no TikTok e todos os espaços em que eu uso a minha voz pra fazer desse mundo um lugar mais agradável pra mim e pra você que está me escutando
Um beijo e até a próxima semana




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